A Leitora, no seu infinito particular (XXIII)

-Vim outra vez a Lisboa, de raspão. Parece-me que não será tão cedo que me fixarei em Viana.
- Afinal era isso, Leitora.
- Pois. Entrei no Metro a horas mortas. Levava um saco que pus no assento ao lado. Em frente e à volta havia vários lugares vazios.
- Não é muito comum.
- Uma senhora disse-me, apontando para o saco: dá-me licença? Peguei no saco e mudei-me para os assentos em frente.
- Fizeste bem em não ter perguntado nada, Leitora.
- A senhora sentou-se no meu lugar. Respirou fundo. E só depois disse que não conseguia ir de costas para a direcção do comboio.
- Mas havia outros lugares em que ela também não iria de costas para a direcção do comboio, certo?
- Justamente.
- A dificuldade do contacto humano, a quase-agressividade como forma de contacto humano.
- Na paragem seguinte aproveitei para mudar de carruagem. Noutras circunstâncias não o teria feito. O espectáculo da humanidade, compreendes?
- Claro que compreendo.
- Mas o cansaço falou mais alto.
- Também compreeendo.

0 comentários: