Ibsen segundo Savinio e volta: aproximação

"Northmannaland, a que, com uma palavra mais doce, chamamos Noruega, é a «última Grécia» da Europa. Para já. E desde que o seu rosto surgiu à luz do dia.
(...)
Entende-se por «Grécia» uma forma de pensar, de ver, de falar, que a mente, os olhos, os ouvidos podem captar «num repente»; podem captar num único pensamento, num único olhar, numa única audição. Entende-se por «Grécia» um espírito portátil e, nos modelos mais elaborados, de trazer no bolso. Entende-se um cérebro, um olho, uma voz, comparados com os quais qualquer outra voz emudece, qualquer outro olho cega, qualquer outro cérebro se torna «matéria cinzenta». Entende-se a faculdade, concedida a algumas pessoas e a outras negada, de compreender a vida do modo mais arguto e, ao mesmo tempo, mais «astuto», mais lírico e, ao mesmo tempo, mais frívolo (há nos nossos deuses uma certa leveza)...
Não digo «mais profunda», porque a claridade ilumina até ao âmago dos abismos e destrói a profundidade. «Profundidade» implica «escuridão». A profundidade permanece mas muda de natureza, muda de «iluminação», muda, por conseguinte, até de nome. «Profundidade clara» é demasiado antitético, demasiado ao arrepio da linguagem e algo reservado a poucos. Deveríamos dizer «superficialidade», se esta palavra não tivesse má fama, porque a luz traz à superfície até mesmo o fundo da profundidade mais profunda."
Alberto Savinio, Vida de Henrik Ibsen

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