Havia aquele escritor que quando lhe perguntavam se por acaso já tinha lido aquele livro do seu colega, respondia sempre muito amavelmente que não era um leitor, mas precisamente um escritor... Creio que um bloguista é o que escreve blogues, e não propriamente aquele que os lê, embora neste particular as coisas sejam um pouco menos dissociáveis. Em todo o caso, há situações de trabalho tais em que mal dá para fazer os posts, quanto mais para ler os dos outros. Abertos em abas, e numa rápida ronda nocturna, olhos já piscos, aqui vai:
O Papa em Auschwitz. O discurso do Papa teve eco positivo em muitos não-crentes e ateus. Confesso que fiquei com ambos os pés atrás. E não foi por aquilo que o Rui Tavares disse ontem no Público (excelente, aliás), porque não tinha sequer tido tempo para ir ler que mais o Papa dissera. Mas nestas coisas, o que se diz não é separável de quem o diz: o tom, performances anteriores, o lugar que isso tem na doutrina de quem assim se pronuncia. E para o actual Papa, que se afasta silenciosamente do populismo do anterior, e que vê a oportunidade da Igreja num combate firme contra aspectos centrais da cultura contemporânea, a interrogação sobre o silêncio de Deus é apenas o passo retórico para criar o espaço de uma fé acima de qualquer dúvida ou interrogação demasiado humana. Uma fé que ouve a incerteza humana, mas tem uma resposta clara que afinal não dá lugar a qualquer incerteza. Em nenhum momento o Papa deixou de ser o Papa, para ser simplesmente um ser humano aflito e perdido. Toda a encenação foi a do poder do Papa, a do poder até de reproduzir as questões aparentemente mais difíceis, mas sempre circunscritas pelo poder de quem as enuncia. E o poder não engana. Não raro engana-se, mas não engana.
Matar e nascer um blog. Ora aí está mais um daqueles temas que se não dá uma tese, dará pelo menos um capítulo. Um belo dia, sem que nada o fizesse prever, um autor mata discretamente o seu blog e renasce ali um pouco mais ao lado com outro. Alguém vá já entrevistar o Ricardo Gross, para saber como e porquê se passa do Babugem para os Devaneios. E se ninguém está para aí virado, o Ricardo Gross que se auto-entreviste, que a coisa, pela minha experiência, não costuma correr mal. Eu, pelo menos, gostava de saber (será curiosidade a mais?..).
Há por aí algum editor? Era bom que algum fizesse já um contrato com o Luís Carmelo para a série do tom dos blogues, porque aquilo, tão eminentemente semiótico, para se ler direito e pensado, tem de se editar, o que já retira metade do gozo. Agora em livro, recuperava o interesse que deveras tem.
Pedido de um tipo que até nem usa óculos. Fazia o obséquio de aumentar um pouquinho o tamanho da letra? Tenho-me aguentado até aqui sem dizer nada, mas acho que a vista se está a ressentir do esforço. Obrigado.
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