A viagem que me interessa na Vida de Henrik Ibsen começa logo no princípio, como deve ser, com a contundência calma que estas coisas devem ter, e sem subterfúgios desnecessários, coisa que a literatura não pede, apenas dá, mas para mostrar em cada caso a rigorosa falta que aquilo fazia. Mas adiante.
O plot é no fundo clássico. Um crítico, Savinio; um autor, Ibsen. O crítico elogia o autor, mas não pelas mesmas razões que o autor acha que são nele elogiáveis. O crítico elogia-lhe a superfície, o autor sempre se achou profundo e nada mais vê em si de elogiável a não ser tal profundidade. Moral clássica: o crítico salva sempre a obra da leitura que o autor faz dela. Até porque o autor, já se sabe, é por definição e por tautologia muito apropriada, um autor, não exactamente um leitor. “Não exactamente”, note-se, faz aqui o papel do obstáculo necessário e suficiente para o plot ser o de uma história de salvação e não a de um homicídio. O obstáculo não é o autor, não se trata de matá-lo para definitiva emancipação da obra, porque não se emancipa aquilo que por sua condição intrínseca é já emancipado. O obstáculo é aquilo que o autor julga saber da obra a que chama sua e lhe asseguram civilmente ser sua: pecado de soberba ou de propriedade indevida, só a renúncia a ele salvará ambos, autor e obra. Mas em verdade um autor não pode renunciar. Pode tentar calar-se acerca da sua obra, mas verdadeiramente não pode renunciar a pensar que sabe algo da sua obra: só isso lhe permite continuar a escrever. A renúncia é uma operação da crítica, é aquilo que o crítico impõe ao autor em nome da obra e da possibilidade de a obra ser lida para além do autor. A salvação vem de fora, é obra da graça crítica. Bem entendido, tudo isto se passa no rés-do-chão da estrita imanência. Acompanhado de um cafezinho e de uns biscoitos, porque a CP apaparica os amantes do comboio. Eu já lhes propus a criação de um serviço especial “Ler sem apiadeiros”. Para além de um segundo café ou chá verde e mais uns biscoitos, haveria um pequeno braço articulável onde pousar o livro quando o cansaço dos braços humanos se fizesse sentir. É uma viagem longa, compreendem? Longa porque, a seu modo, vagarosa. Tudo coisas que interessam à leitura, isto é, que são a sua condição de possibilidade. Bom, regressemos a Savinio, o crítico; e a Ibsen, o autor.
O plot é no fundo clássico. Um crítico, Savinio; um autor, Ibsen. O crítico elogia o autor, mas não pelas mesmas razões que o autor acha que são nele elogiáveis. O crítico elogia-lhe a superfície, o autor sempre se achou profundo e nada mais vê em si de elogiável a não ser tal profundidade. Moral clássica: o crítico salva sempre a obra da leitura que o autor faz dela. Até porque o autor, já se sabe, é por definição e por tautologia muito apropriada, um autor, não exactamente um leitor. “Não exactamente”, note-se, faz aqui o papel do obstáculo necessário e suficiente para o plot ser o de uma história de salvação e não a de um homicídio. O obstáculo não é o autor, não se trata de matá-lo para definitiva emancipação da obra, porque não se emancipa aquilo que por sua condição intrínseca é já emancipado. O obstáculo é aquilo que o autor julga saber da obra a que chama sua e lhe asseguram civilmente ser sua: pecado de soberba ou de propriedade indevida, só a renúncia a ele salvará ambos, autor e obra. Mas em verdade um autor não pode renunciar. Pode tentar calar-se acerca da sua obra, mas verdadeiramente não pode renunciar a pensar que sabe algo da sua obra: só isso lhe permite continuar a escrever. A renúncia é uma operação da crítica, é aquilo que o crítico impõe ao autor em nome da obra e da possibilidade de a obra ser lida para além do autor. A salvação vem de fora, é obra da graça crítica. Bem entendido, tudo isto se passa no rés-do-chão da estrita imanência. Acompanhado de um cafezinho e de uns biscoitos, porque a CP apaparica os amantes do comboio. Eu já lhes propus a criação de um serviço especial “Ler sem apiadeiros”. Para além de um segundo café ou chá verde e mais uns biscoitos, haveria um pequeno braço articulável onde pousar o livro quando o cansaço dos braços humanos se fizesse sentir. É uma viagem longa, compreendem? Longa porque, a seu modo, vagarosa. Tudo coisas que interessam à leitura, isto é, que são a sua condição de possibilidade. Bom, regressemos a Savinio, o crítico; e a Ibsen, o autor.
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