Os trabalhos e os dias (11)

Sorry, no gossip acerca do prémio de romance e novela ape/iplb 2005. Apenas aquilo que é do conhecimento universal. A saber. Para evitar qualquer influência externa, a composição do júri é mantida em segredo e cada um dos seus membros mandado para diferentes países estrangeiros ler os vários caixotes da produção romanesca portuguesa. A mim, por exemplo, porque sou caloiro nestas andanças, mandaram-me para Palma de Maiorca. Mas há destinos melhores, ao que ouvi dizer. Nas datas aprazadas, regressa-se à capital do reino. As reuniões decorrem à porta fechada, com vigilância policial reforçada, espraiando-se os membros do júri pelo palácio da sede da APE, que só à sua conta ocupa metade da rua de S. Domingos à Lapa. Cada um dos cinco elementos fica isolado numa sala, a discussão é feita por intercomunicador, que tem a particularidade de distorcer as vozes, tornando-as todas rigorosamente iguais, mecânicas, insuportáveis mais de três minutos seguidos. Quer-se com isto evitar o estabelecer de quaisquer laços de intimidade ou de mera simpatia entre os membros do júri, de modo a que toda a discussão se processo dentro dos estritos limites da razão teórica. Nunca se sabe quem diz o quê. Findo o prazo de discussão, cada membro do júri vota secretamente. Apurado o resultado, tira-se à sorte quem votou em quem. Os que por sorteio tiverem votado vencedor, recebem pelo seu trabalho o equivalente ao montante do prémio. Os que tiverem votado vencido, recebem o dobro. Findo o seu trabalho, o júri tem direito a passar automaticamente à condição de suspeito de algumas extraordinárias manigâncias. A vox populi deste ano é que Cavaco Silva terá feito ao júri uma “proposta irrecusável” no sentido de premiar um escritor apoiante da sua candidatura. Como por acaso todos os membros do júri estiveram na comissão da honra da candidatura do emérito Professor, a coisa foi fácil. Mesmo assim, como negócios são negócios, o chequezito que está ali há-de-me pagar umas merecidas férias num lugar mais snob que Palma de Maiorca. São só mais umas quatro ou cinco versões das Goldberg, e devo ter terminado por este ano lectivo. Para onde vou? Se não se importam, vou sozinho.

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