Rui Bebiano critica o prefácio de Gonçalo M. Tavares ao livro de Adelino Gomes e José Pedro Castanheira, Os dias loucos do PREC. Não conheço ainda o livro, não li o prefácio. Mas reconheço a dimensão mais problemática do «tom» Gonçalo M. Tavares através da crítica de Rui Bebiano, o que torna altamente provável que Rui Bebiano tenha lido bem e que Gonçalo M. Tavares continue a escorregar, mesmo no que à empiria diz respeito, para uma lógica que esquece as diferenças individuais — aquelas de que, afinal, se alimenta toda a ficção que ainda vale a pena. A série do «Bairro» — aliás excelente — vive fora da história. Quando entra nela, como com os romances da série «Livros Negros», o grande problema consiste em encontrar um tom que não seja o do jogo lógico, dos seus paradoxos e absurdos. Mesmo que a historiografia continuasse a desvalorizar, como diz Rui Bebiano, “o papel do olhar de desafio de Salgueiro Maia, ampliado aos olhos do apontador da Chaimite, o qual, por ele convencido, resolveu desobedecer às ordens do seu comandante e não disparar sobre os revoltosos de Abril, possibilitando a sua vitória” — mesmo que a historiografia continuasse a desvalorizar isso, que já não o faz, o romancista só tem que seguir esse olhar, e inventar como ficção e linguagem aquilo que Rui Bebiano descreve com lógica de ensaísta (dito de outro modo: tem que substituir expressões como «o qual, por ele convencido», «resolveu desobedecer», «possibilitando a sua vitória» por conexões ficcionais que mostrem isso sem o dizer). Que Gonçalo M. Tavares, ao que parece, possa considerar esse olhar, ou outros acontecimentos análogos, como excitações que perturbam a verdade dos factos, eis alguma coisa que parecia assomar ao longo dos romances da séria “Livros Negros”, e que tornam, a meu ver, algo problemático o seu futuro como romancista. Mas claro, nestas coisas, não só os desígnios do romance são mais insondáveis do que os de Deus, como a vontade do autor, apesar de muitas aparências em contrário, é quase sempre a última a saber do destino que lhe cabe. Aguardemos, portanto.
De um «tom» Gonçalo M. Tavares
Luís Mourão
24.4.06 |
0 Comments
|
This entry was posted on 24.4.06
You can follow any responses to this entry through
the RSS 2.0 feed.
You can leave a response,
or trackback from your own site.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
0 comentários:
Enviar um comentário