A música que amamos não vive apenas de intérpretes excepcionais. Às vezes gostamos simplesmente de ter dentro dela pessoas que por várias razões admiramos. Como Daniel Barenboim. Falo hoje apenas de uma razão. Como maestro, e como judeu, Daniel Barenboim teve a coragem de tocar Wagner em Israel. E não foi para reabilitar Wagner. Nestas coisas, como sabemos, os criadores acabam sempre por ser maiores que os equívocos que se lhes colam. Foi para que Israel não se continuasse a privar da fonte de alegria e de pensamento que existe na música de Wagner. Hoje gostava que algum Daniel Barenboim português nos devolvesse o que perdemos, todos, há quinhentos anos atrás. Difícil, sei bem. Formulemos então um desejo mais simples: que sejamos agora capazes, qualquer que seja o outro em causa, de sabermos não perder o presente que nos foi dado como tarefa. E como hospitalidade radical.
Os trabalhos e os dias (6)
Luís Mourão
19.4.06 |
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