Um contemporâneo


Não era o motivo do post, mas fui atingido por esta fotografia como um raio: pensei que estava a ver Derrida. Algo na forma como o cabelo pousa no mundo (?), no olhar que vem de dentro, depois de dar a volta a tudo, dizendo ainda sim.

O motivo: um grande autor contemporâneo é o que atravessa as gerações que se lhe seguem, dando as suas palavras a sentidos e afecções diferentes. Pedro Mexia evoca Beckett: “Try again. Fail again. Fail better.” As mesmas palavras (mas em tradução, ainda era o tempo da francofonia...) que usei para epígrafe de um pequeno ensaio sobre Vergílio Ferreira, há dezasseis anos atrás. Dir-se-á: o mesmo fundo humano, querendo dizer pessimismo, melancolia, fora da história. Talvez. Mas com uma pequena diferença, que faz com que a frase ecoe de forma diferente. A minha citação começava um pouco mais atrás: “Não importa. Tentar outra vez. Falhar outra vez. Falhar melhor.” E começava mais atrás por causa do fim da história (da utopia, da grande narrativa legitimadora, tudo isso). Pedro Mexia vem depois. Trata-se já (apenas...) de falhar melhor.

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