Não diga nada. Ouça apenas. As sirenes. Só se ouviam no princípio. O susto. Olhar em redor. Na fuga eram ruído de fundo. O coração batia mais forte. Na boca, contra o céu da boca. Saltava do corpo a indicar a direcção. Era infalível, sabia. Sempre mais para baixo. A direcção era essa, qualquer cave, as entranhas da terra. E não se calava nunca, o coração. Mais alto que as bombas. Apertava os ouvidos por dentro, dobrava os ossos, torcia a língua. Um coração mais alto que as sirenes. Mais agudo. Nas entranhas húmidas da terra. Ouça apenas como eu ouvi nas mãos da minha avó. E nos olhos parados quando não queria lembrar. Nunca no seu coração. Não diga nada. Leve consigo, guarde o que lhe for necessário, disperse o resto no vento. Não peça coerência. Não imagine as outras histórias possíveis. Talvez mais plausíveis. Mas não mais verdadeiras. Ouça apenas. Faça escuro e antigo. E atravesse.
A Leitora, no seu infinito particular (X)
Luís Mourão
13.4.06 |
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