Os trabalhos e os dias (2)


Com os últimos acordes do cravo, um silêncio estranho desceu sobre a casa. O tempo parou, vim ver à janela porquê. Relva cortada, já nem sinal do jardineiro, vento mínimo na laranjeira e no plátano. Fortes sinais verdes na figueira, flores brancas nos marmeleiros. Um interregno sem carros ao longe e comboio ao perto. Sem pássaros. Abro a janela. Abelhões, o fundo tenso do silêncio. Tempo de respirar a luz da tarde. Breve sorriso, como se tudo fosse verdade e simples. Como se tivesse compreendido o efémero e a compaixão. Mota tremenda na auto-estrada e toda a vida normal regressa. Fechar a janela, voltar à correcção das frequências. Recomeça o cravo.

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