Limite de idade

O limite de idade é uma questão política: entenda-se, da polis, da organização do todo da vida pública. Diz respeito à passagem entre os tempos: saber legar, saber deixar que o legado seja transformado.
Setenta anos é uma convenção, por certo. Mas o importante é que é uma convenção que diz uma filosofia da coisa pública. E essa filosofia está certa. Este limite não pede avaliação do desempenho de um cargo, diz apenas que é a hora de outros servirem o bem público.
O que me entristece no caso Bénard da Costa, ou noutros menos mediáticos, é precisamente que pessoas que pela sua inteireza intelectual têm obrigação de saber o quão certa é essa filosofia, e que têm (obrigação intelectual de ter) vida própria para além do cargo, se deixem confundir com ele.
Há nisto, não posso evitar pensá-lo, uma diminuição de humanidade, que é mais confrangedora porque vem de quem nos tem dado razões para acreditarmos em mais humanidade.
Nos mosteiros zen, li-o em qualquer parte, os grandes mestres, no longo caminho da sua sabedoria, tornavam-se porteiros solícitos ou jardineiros atentos. Não me custa acreditar nessa humildade. Quer dizer, nessa sabedoria. E se porventura se pensar que os mosteiros zen são coisas lá longe, de um mundo diferente, pode-se sempre procurar sabedoria análoga nalguns dos nossos clássicos do cinema.

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