— E tem sido sempre assim, nestas últimas manhãs? Mas desde quando, Leitora?
— Isso importa? Tinha passado aqui, mas não dei conta de nada. Já ia longe e voltei a enganar-me. Não diga nada, não vale a pena. Enganei-me com uma elegância e simplicidade que até a mim me espantam.
— Ah, mas sendo assim é capaz de valer a pena que conte. Elegância e simplicidade, não são coisas de todos os dias. Infelizmente, se posso acrescentar.
— Pode. (pausa)
— E então, vai contar?
— Sou só mistério, não tem segredo nenhum.
— Não desconverse outra vez com a Marisa Monte.
— Mas é isso, não tem segredo nenhum. Segui todas as placas, mudei de direcção nos sítios certos, devagar e parando por coisas triviais, sem angústia de chegar, e quando dei por mim tinha voltado para trás por um caminho diferente e estava outra vez aqui.
— Pois… E pensava em quê, durante a viagem e as paragens?
— Nada de obsessivo, nada de concreto. A luz, uma certa felicidade difusa, a leveza de estar fora…
— E onde a elegância, a simplicidade?
— Desenhando no mapa o percurso. A distracção sabe ainda aquilo que nós já esquecemos. Já tinha estado aqui, sabe? Há muito tempo, era isto diferente, é tudo muito vago.
— E seguiu o seu próprio conselho, Leitora? Fechou os olhos e pensou escuro e antigo, muito escuro e muito antigo?
— Não. Pus-me a ler e a habitar. É essa a minha idade.
— Essa poderá ser sempre a sua idade.
— Sim, mas agora é mesmo, sem esforço nenhum.
A Leitora, no seu infinito particular (VII)
Luís Mourão
6.4.06 |
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