- Gostei da foto do álbum que me mandou. Mas não deixa de ser estranho que ande com ele como bagagem habitual.
- Agora é a sua vez de presumir.
- Mas disse-me que tinha tirado a foto com o seu telemóvel.
- E tirei. Mas o telemóvel tem ligação à net.
- Tecnologia a mais, para mim. Mas então não é o seu álbum de miúda?
- E isso importa? É esse tipo de empiria que procura?
- Era só uma pergunta, Leitora.
- Só uma pergunta? Não há aí uns pezinhos de lã a acercarem-se da mesa e umas mãozinhas desejosas de virar a primeira página?
- Mesa? Mas então existe álbum em cima da mesa?
- Estava apenas a imaginá-lo à procura dos pequenos segredos que imagina que eu guardo.
- Conversa esquisita, esta. (pausa) Escuro e antigo, dessa parte gostei. Isso foi bom de ouvir. E de sentir.
- Então deixe estar assim. Escuro e antigo. Faça muito escuro e cada vez mais antigo. Feche os olhos por dentro dos olhos fechados. Depois recomeçamos.
- Recomeçamos?
- Escuro e antigo. Sem memória. Sem sótão ou cave. É por aí que se recomeça.
- Uma mancha, apenas?
- Também serve. Mas sobretudo, escuro e antigo. E os olhos fechados por dentro dos olhos fechados. Até que as imagens se comecem a inventar. É assim que se recomeça.
A Leitora, no seu infinito particular (VI)
Luís Mourão
2.4.06 |
0 Comments
|
This entry was posted on 2.4.06
You can follow any responses to this entry through
the RSS 2.0 feed.
You can leave a response,
or trackback from your own site.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
0 comentários:
Enviar um comentário