— Já pensou em actualizar a lista dos links?
— Um dia destes, Leitora, um dia destes...
— E posso indicar também os meus?
— Claro. Desde que me diga como se separam as listas...
— Entretanto, envie aí para a morte de um ulmeiro. Não é que eu saiba o que é um ulmeiro, ou perceba seja o que for de árvores, mas aquela morte a partir de dentro, como trabalho árduo e perfeito, disse-me mais uma vez o quanto nós, humanos, falhamos em ser natureza...
— Compreendo-a... Mas não sei se será tanto assim... Aquela espantosa fotografia da Agnés Varda não dirá o mesmo processo? Uma morte vagarosa que é só o tempo a cumprir-se, a melancolia da aceitação, a quietude que entreabre a vida à carne que não se defende...
— Talvez... Mudando de assunto: vai pôr uma vela em memória dos judeus mortos há quinhentos anos?
— À minha maneira, e aqui de longe, sim.
— E que maneira é essa?
— É a maneira de alguém que também acha abjecto que se queira diminuir a barbárie de qualquer genocídio como aquele, que sabe que o não-esquecimento da barbárie é o fundamento da civilização, que acompanharia com a sua não-reza as orações, e que gostaria que esse gesto de memória, legitimamente religioso, pudesse completar-se depois num sinal que fosse nuamente humano.
— Mas isso não seria rasurar, mais uma vez, que o que aconteceu foi um acto de anti-semitismo?
— Não, de todo. Penso em qualquer coisa assim: velas no Rossio, oração ecuménica pelos judeus assassinados (e os ateus como eu também são comunidade ecuménica), e deslocação em seguida para um outro lugar onde simbolicamente estivéssemos absolutamente indiferentes ao sermos ou não sermos religiosos, por isso não ser nem poder ser problema.
— Percebo-o. Mas olhe que algumas reacções, de facto abjectas, mostram a necessidade de ainda se enfatizar o primeiro desses gestos simbólicos.
— Também o reconheço, é verdade.
— Sobre ser justo, será também pedagógico.
— Por falar em pedagógico, Leitora, que me diz daquele texto notável sobre as palavras e as coisas racistas?
— Que é isso mesmo, notável. E já que estamos nesta espécie de revista de blogues, impressionou-me aquele texto do Vasco Graça Moura sobre os moradores que vão ser sitiados por uma auto-estrada.
— Um serviço público raro no VGM político, mas desta vez em cheio. E por falar em serviço público, o Júlio Machado Vaz começou uma série sobre esse continente desconhecido que é a sexualidade na terceira idade.
— Hum...
— Lá há-de chegar, Leitora, se tiver sorte e algum talento.
— Eu sei, eu sei... E que me diz do desafio à esquerda do Miguel Vale de Almeida? Eu acho que faz todo o sentido.
— Pois faz, pois faz. Mas não a sabia interessada em política, nem de esquerda.
— Mas sou. Interessada em política.
— Ah... Não é de esquerda, afinal...
— Quer a sua conclusão, quer a sua contra-conclusão não têm fundamento...
— Touché.
— Mas sou, como qualquer rapariga interessada e interessante.
(riem ambos com gosto, como se dizia outrora no casmurro)
Os trabalhos e os dias (5)
Luís Mourão
17.4.06 |
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This entry was posted on 17.4.06
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